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quinta-feira, 17 de março de 2011

Poesia Barroca


Diverso do da literatura doutrinária e moralista é o caminho seguido pela poesia. Dir-se-ia que o próprio afeiçoamento do espírito barroco, especialmente em sua vertente gongórica, limita o alcance e o sentido da poesia escrita ao longo do século XVII e primeira metade do século XVIII. Tornada poesia para entreter, valia pelo seu caráter lúdico, pelo brinquedo verbal, segundo uma ginástica das imagens e das correlações sintáticas que acabou sendo princípio, meio e fim. Por outras palavras: a poesia barroca corresponde mais ao culto da forma, do verso, que da essência, do conteúdo, do sentimento, da emoção lírica.
Esse gosto pelo malabarismo vocabular, sintático e versifica tório, se explica pelo aproveitamento indiscriminado e mecânico daquilo que nas artes plásticas contemporâneas era o delírio dos cromatismos, dos volumes, das soluções imprevistas, da aproximação de contrastes, o jogo claro-escuro, etc. Tudo quanto, ao fim de contas, constitui o arsenal poético gongórico. Nessas circunstâncias, é fácil compreender que só raramente a poesia barroca supera a mediocridade e ganha algum interesse estético, muito embora valha por seu lado estilístico e linguístico. Na verdade, somente algumas composições alcançam dizer-nos alguma coisa: tudo o mais pereceu com o tempo que lhe deu causa e razão de ser.
A poesia barroca em Portugal apresenta-se em poetas isolados e em antologias organizadas com idêntico espírito ao que presidiu à compilação dos cancioneiros medievais.
Quanto aos primeiros, sobressaem D. Francisco Manuel de Melo e Francisco Rodrigues Lobo, certamente os mais importantes do século XVII português, quando se cultiva a poesia lírica, a satírica e a épica. No último tipo se enquadram alguns importantes poemas heróicos, obedientes sobretudo ao modelo camoniano, como Ulisseia ou Lisboa Edificada (1636), de Gabriel Pereira de Castro (1571-1632), Afonso Africano (1611), de Vasco Mouzinho de Quevedo (??), e Málaca Conquistada (1634), de Francisco de Sá de Meneses (morto em 1664), Ulissipo (1640), de António de Sousa de Macedo (1606-1682), etc.

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